Trânsito e Autodestruição
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automóvel é uma peça metálica sem vida ou uma caixa de ferro parafusada em cima de quatro rodas, mas no momento em que está sendo usado passa a ter a inteligência e a personalidade do condutor. É ele, portanto quem lhe dá, vida, forma e comportamento. A sensibilidade e as características psicológicas do condutor faz com que ele manifeste um comportamento aceitável ou inaceitável: o veículo revela afinal o verdadeiro caráter de quem está sentado atrás do volante.
Da mesma forma que um revolver carregado nas mãos de uma pessoa despreparada se constitui num grande perigo, assim também, o automóvel nas mãos de uma pessoa com as condições psicológicas desfavoráveis ou não suficientemente preparada e treinada para dirigi-lo se constitui numa grande máquina mutiladora. Só o condutor poderá decidir o que fazer ou o que deixar de fazer diante de determinadas situações e estabelecer o que pretende fazer com este instrumento: usá-lo como um meio mais agradável e mais rápido de se locomover ou como um frágil tanque de guerra em tempo de paz. Apenas o condutor atento e revistado de atitudes defensivas ou preventivas poderá tomar as decisões a cada segundo para chegar ao lugar pretendido, sem acidentes. Gerald Wilde no livro Risco Pretendido, refere que o condutor tem que lidar com o perigo da morte... em decisões diárias. De fato, os acidentes parecem estar intimamente relacionados com a pouca ou com fraca vontade de viver. As pessoas ajustadas, felizes, contentes e de bem com a vida dificilmente morrem de acidentes de trânsito. Poucas pessoas morrem dirigindo, a maioria se suicida através do volante. O simples ato de dirigir revela, portanto, o estado emocional do condutor: quando ele deixa de processar informações ou as processa de forma tardia, isto significa que ele está aceitando os riscos e que pouco está se importando com a vida. A surdez de perceber riscos, de processar riscos, tomar decisões, executar decisões e a surdez de controlar o resultado das decisões é revelador de que algo de errado está se passando com o condutor.
Quando o condutor se aproxima do veículo (para dirigi-lo), nem de longe lhe passa pela cabeça a idéia de que estaria a ponto de usar uma arma mortífera. Seria de todo conveniente que viesse a ser dominado por este pensamento.
O uso do automóvel comporta riscos elevados. Em 80 a 90% dos sinistros rodoviários está presente o comportamento dos condutores. Com relativa facilidade é possível detectar dois tipos de comportamento, revelados no ato de dirigir: os que rejeitam ou detestam os riscos e os que apreciam ou amam os riscos. No primeiro grupo estão os condutores prudentes e defensivos e no segundo os de comportamento atrevido e ousado ou os que aceitam e manifestam gosto pelos perigos. Ao volante os condutores manifestam atitudes diametralmente opostas: quando tenho a prioridade eu guardo minha velocidade para atravessar os cruzamentos; eu reduzo a velocidade e atravesso lentamente. Diante dos riscos eu buzino estrondosamente para abrir caminho e assegurar meus direitos. Ao pressentir os perigos eu coloco o pé sobre o pedal do freio e assim eu passo a encurtar o tempo de reação em 2/3 e, dessa forma, se estiver dirigindo a 110km/h, passo a frear 26 metros antes. Segundo nossa maneira de entender, no primeiro estilo de conduzir se enquadram os condutores que se auto-apreciam e que adoram viver; no segundo, os que revelam pouca sensibilidade para consigo mesmos e para com os outros e pouco se importam com a vida.
Os estudiosos do comportamento humano no trânsito pensam que estas duas formas de conduzir estariam atreladas ao caráter e à personalidade de quem dirige ou às situações de caráter duradouras ou momentâneas que o condutor estaria atravessando. Os que manifestassem pouco amor pela vida estariam passando por um período caracterizado por impulsividade, dificuldade de autocontrole, ingenuidade, depressão, egocentrismo, exibicionismo, frágil espírito de equipe e baixa preocupação social. Para os autores de orientação psicanalítica, o automóvel é um instrumento auto-destrutivo ideal, sobretudo nos indivíduos que pretendem camuflar sua motivação suicida. Goethe disse certa vez que O condutor não viaja somente para chegar... (de onde se pode inferir que muitas vezes ele viaja para se acidentar).
Admite-se habitualmente em Psicologia que as representações mentais precedem ou acompanham as ações. Segundo alguns psicólogos modernos, muitos condutores podem estar usando o automóvel como uma das armas mais convenientes para conseguir seu importante desejo de autodestruição. Para o psicólogo canadense Gerald Wilde, alguns condutores têm consciente ou inconscientemente o acidente como meta a ser atingida e infelizmente não sossegam enquanto o alvo não é atingido.
A simbiose que se cria entre condutores e veículos faz com que muitos condutores percam a identidade de seres humanos e passem a apresentar conduta semelhante ao do centauro da mitologia grega, metade racional e metade irracional. Conduzir um veículo é uma responsabilidade séria.
Quando o condutor não respeita a faixa contínua, quando não mantém distância de segurança do veículo que o precede, quando fecha os outros veículos, isto não é acidental, é intencional (são eventos causados: portanto podem ser evitados) e poderá fazer com que tudo aquilo que até um décimo de segundo antes era diversão, música, conversação, alegrias, sonhos e desejos, logo após se transforme no caos, na dor, na tristeza e na própria morte. Por trás dos acidentes, invariavelmente, está uma infração de trânsito ou das normas que regem a circulação dos veículos. Na condução, a concha metálica do veículo dá ao condutor a impressão de estar protegido pelo anonimato (sem rosto e sem nome): ninguém me conhece, ninguém pode me identificar. Esta é a lógica que promove a violência das massas nas cidades de grande porte. O condutor, no entanto, não pode esquecer que seu veículo tem placa, marca, cor e forma.
Para finalizar, não podemos esquecer o poder nefasto das drogas na manifestação de comportamentos suicidas ao volante: as drogas reduzem a sensibilidade, embrutecem as pessoas e ocasionam o empobrecimento do senso moral (tênue e quase inexistente é o limiar da percepção entre o permitido e o proibido, entre o bem feito e o mal feito, entre o certo e o errado). O que se constata de modo geral é que as pessoas dirigem como vivem.
Da mesma forma que um revolver carregado nas mãos de uma pessoa despreparada se constitui num grande perigo, assim também, o automóvel nas mãos de uma pessoa com as condições psicológicas desfavoráveis ou não suficientemente preparada e treinada para dirigi-lo se constitui numa grande máquina mutiladora. Só o condutor poderá decidir o que fazer ou o que deixar de fazer diante de determinadas situações e estabelecer o que pretende fazer com este instrumento: usá-lo como um meio mais agradável e mais rápido de se locomover ou como um frágil tanque de guerra em tempo de paz. Apenas o condutor atento e revistado de atitudes defensivas ou preventivas poderá tomar as decisões a cada segundo para chegar ao lugar pretendido, sem acidentes. Gerald Wilde no livro Risco Pretendido, refere que o condutor tem que lidar com o perigo da morte... em decisões diárias. De fato, os acidentes parecem estar intimamente relacionados com a pouca ou com fraca vontade de viver. As pessoas ajustadas, felizes, contentes e de bem com a vida dificilmente morrem de acidentes de trânsito. Poucas pessoas morrem dirigindo, a maioria se suicida através do volante. O simples ato de dirigir revela, portanto, o estado emocional do condutor: quando ele deixa de processar informações ou as processa de forma tardia, isto significa que ele está aceitando os riscos e que pouco está se importando com a vida. A surdez de perceber riscos, de processar riscos, tomar decisões, executar decisões e a surdez de controlar o resultado das decisões é revelador de que algo de errado está se passando com o condutor.
Quando o condutor se aproxima do veículo (para dirigi-lo), nem de longe lhe passa pela cabeça a idéia de que estaria a ponto de usar uma arma mortífera. Seria de todo conveniente que viesse a ser dominado por este pensamento.
O uso do automóvel comporta riscos elevados. Em 80 a 90% dos sinistros rodoviários está presente o comportamento dos condutores. Com relativa facilidade é possível detectar dois tipos de comportamento, revelados no ato de dirigir: os que rejeitam ou detestam os riscos e os que apreciam ou amam os riscos. No primeiro grupo estão os condutores prudentes e defensivos e no segundo os de comportamento atrevido e ousado ou os que aceitam e manifestam gosto pelos perigos. Ao volante os condutores manifestam atitudes diametralmente opostas: quando tenho a prioridade eu guardo minha velocidade para atravessar os cruzamentos; eu reduzo a velocidade e atravesso lentamente. Diante dos riscos eu buzino estrondosamente para abrir caminho e assegurar meus direitos. Ao pressentir os perigos eu coloco o pé sobre o pedal do freio e assim eu passo a encurtar o tempo de reação em 2/3 e, dessa forma, se estiver dirigindo a 110km/h, passo a frear 26 metros antes. Segundo nossa maneira de entender, no primeiro estilo de conduzir se enquadram os condutores que se auto-apreciam e que adoram viver; no segundo, os que revelam pouca sensibilidade para consigo mesmos e para com os outros e pouco se importam com a vida.
Os estudiosos do comportamento humano no trânsito pensam que estas duas formas de conduzir estariam atreladas ao caráter e à personalidade de quem dirige ou às situações de caráter duradouras ou momentâneas que o condutor estaria atravessando. Os que manifestassem pouco amor pela vida estariam passando por um período caracterizado por impulsividade, dificuldade de autocontrole, ingenuidade, depressão, egocentrismo, exibicionismo, frágil espírito de equipe e baixa preocupação social. Para os autores de orientação psicanalítica, o automóvel é um instrumento auto-destrutivo ideal, sobretudo nos indivíduos que pretendem camuflar sua motivação suicida. Goethe disse certa vez que O condutor não viaja somente para chegar... (de onde se pode inferir que muitas vezes ele viaja para se acidentar).
Admite-se habitualmente em Psicologia que as representações mentais precedem ou acompanham as ações. Segundo alguns psicólogos modernos, muitos condutores podem estar usando o automóvel como uma das armas mais convenientes para conseguir seu importante desejo de autodestruição. Para o psicólogo canadense Gerald Wilde, alguns condutores têm consciente ou inconscientemente o acidente como meta a ser atingida e infelizmente não sossegam enquanto o alvo não é atingido.
A simbiose que se cria entre condutores e veículos faz com que muitos condutores percam a identidade de seres humanos e passem a apresentar conduta semelhante ao do centauro da mitologia grega, metade racional e metade irracional. Conduzir um veículo é uma responsabilidade séria.
Quando o condutor não respeita a faixa contínua, quando não mantém distância de segurança do veículo que o precede, quando fecha os outros veículos, isto não é acidental, é intencional (são eventos causados: portanto podem ser evitados) e poderá fazer com que tudo aquilo que até um décimo de segundo antes era diversão, música, conversação, alegrias, sonhos e desejos, logo após se transforme no caos, na dor, na tristeza e na própria morte. Por trás dos acidentes, invariavelmente, está uma infração de trânsito ou das normas que regem a circulação dos veículos. Na condução, a concha metálica do veículo dá ao condutor a impressão de estar protegido pelo anonimato (sem rosto e sem nome): ninguém me conhece, ninguém pode me identificar. Esta é a lógica que promove a violência das massas nas cidades de grande porte. O condutor, no entanto, não pode esquecer que seu veículo tem placa, marca, cor e forma.
Para finalizar, não podemos esquecer o poder nefasto das drogas na manifestação de comportamentos suicidas ao volante: as drogas reduzem a sensibilidade, embrutecem as pessoas e ocasionam o empobrecimento do senso moral (tênue e quase inexistente é o limiar da percepção entre o permitido e o proibido, entre o bem feito e o mal feito, entre o certo e o errado). O que se constata de modo geral é que as pessoas dirigem como vivem.
Ático J. Dotta e Renata M. Dotta
Este tema irá figurar na 5ª edição do livro Acidentes de trânsito - como evitá-los.