Opinião DetranRS: Comunidade do trânsito em alerta
Publicação:

Enio Bacci, diretor-geral do DetranRS
dg@detran.rs.gov.br
A lei que altera o Código de Trânsito Brasileiro sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro trará impactos profundos no nosso trânsito. Embora menos radical do que o texto original, as novas regras deixam preocupados os gestores e a comunidade do trânsito, que precisarão encontrar alternativas para que o país não retroceda nos avanços conquistados nos últimos anos, como a redução dos acidentes.
De todas as mudanças, um ponto preocupa sobremaneira: o aumento da pontuação para a suspensão do direito de dirigir. A ideia da gradação é interessante. Devem ser punidas com maior rigor infrações que atentem contra a vida. Mas da forma que passou, aumentando para 40 pontos para quem não tiver infração gravíssima, 30 para quem possuir uma gravíssima e 20 para quem tiver duas ou mais infrações do tipo, aumenta a sensação de impunidade. Para os motoristas profissionais, a mudança é ainda mais temerária: esses podem chegar a 40 pontos, independentemente das infrações cometidas.
É importante lembrar que a suspensão não é apenas uma medida punitiva complementar à multa. Como ela exige que o condutor passe por um curso de reciclagem, ela é também uma medida educativa. Oferece a oportunidade para esses motoristas repensarem suas atitudes, proporcionando uma mudança mais genuína do que o simples medo da punição. Se a regra sancionada agora estivesse valendo em 2019, 40% dos 22 mil motoristas gaúchos que foram suspensos por pontos deixariam de passar por esse processo. O número é ainda mais expressivo entre os motoristas profissionais: quase 98% dos 5,5 mil que passaram por reciclagem em 2019 não precisariam refletir sobre suas atitudes no trânsito.
As mudanças irão exigir dos gestores mais empenho e criatividade para impedir que os acidentes não voltem a crescer, matando e ferindo milhares de pessoas todos os anos. Do Estado, serão necessários reforço na fiscalização, qualificação da formação de novos motoristas e cada vez mais educação. Dos motoristas, cada vez mais consciência.
Artigo publicado originalmente no Jornal Zero Hora de 16 de outubro de 2020.